terça-feira, 21 de agosto de 2007

Para reflectir... e "opinar"!

Caros amigos:
.
Conforme vos disse em tempos idos, enquanto pessoa, não vou abdicar de poder dar as minhas opiniões sobre todo e qualquer aspecto, neste blog a que chamamos nosso. Talvez o tema, desta vez, possa ferir ou magoar mas como se coaduna com aquilo que eu penso no momento actual, não posso deixar de o fazer e colocar no ar, para que se possível exista debate. Cada vez é mais importante não nos calar e este povo de brandos costumes, só quando está mesmo com a corda na garganta, é que se lembra que há vida e que ela pode acabar. Por isso, deixo-vos partes dum texto que é de Guerra Junqueiro, do livro “Pátria” e que apesar de ser de 1896, está tão actual que até mete dó.
.
amtCatela
................................................................................
“ Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos devergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que já nem com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando de donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. (…)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública empantomineiros e corruptos, capazes de toda a maldade e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (…)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. (…)
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos (…) sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, (…) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero e não se moldando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar…”

2 comentários:

Anónimo disse...

Segundo a wikipédia ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Ab%C3%ADlio_de_Guerra_Junqueiro ), Guerra Junqueiro "(...)publicou o poema Pátria. Estas composições tiveram uma imensa repercussão, contribuindo poderosamente para o descrédito das instituições monárquicas."

Antes de haver por aí confusões, as minhas palavras referem se ao estado da nação e do mundo, e não à mais bela rosa deste canteiro a beira mar plantado (o nosso São Paio!)

Infelizmente este excerto aplica se bem a conjuntura actual e as palavras do Catela "este povo de brandos costumes (...)" também não foge da realidade portuguesa...

Nessa altura (finais do século XIX, "A Pátria" foi publicado 1896), palavras como as de Guerra Junqueiro levaram a que as coisas mudassem (talvez de cavalo para burro mas mudou!). Quem hoje terá o dom a comunicação e (mais importante) credibilidade e tempo de antena para realmente fazer algo mudar? E pior, é que na minha pequena experiencia de vida, o que vejo é que quem tem essas faculdades não as usa para melhorar as coisas de todos, mas para ficar com o bolso mais pesado...

O que fazer para mudar? Não sei...

Mudar para onde? Não sei...

Mas um breve olhar pelo mundo, quer política como ambientalmente, leva me a dizer que as coisas vão mudar e não ha de faltar assim tanto tempo... Mas iremos nos mudar de cavalo para burro? São esses pensamentos que me fazem pensar que uma dia destes ainda vou agradecer a Deus por ainda ter um cantinho onde ter as minhas batatas e os meus cereais para não morrer a fome, pois meus amigos, até quando é que esta vida vai durar? Não sei não...

Perdoem-me o testamento!

Alexandre Madeira

Anónimo disse...

Passados 111 anos ainda não fica nada mal...