quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Aqui estou eu outra vez...

...a escrever palavras ao sabor da noite, ao sabor de ti. Procuro dentro de mim, dentro desta carne velha rija, algo que me traga outra vez, o sabor da tua inocência, perdida, num qualquer dia ao acaso que nem me lembro se estava frio ou calor, se o vento estava a soprar, ou se era simplesmente uma brisa que vinha do mar.
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Aqui estou eu acordado, de olhos esbugalhados, querendo ver cada vez mais perto, não sabendo se estou a sonhar, uma vida já vivida, ou que ainda está para viver. A noite continua, o meu corpo esfria e puxo o cobertor, tentando escondê-lo do frio que faz em Agosto, como se o frigorifico tivesse vindo para a minha cama.
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Aqui estou eu, estúpido e senil, olhando algumas estrelas que estão no céu, parecendo um pobre apaixonado, chorando dores de raiva contida, de paixões sofridas, pelo tempo esmorecidas, mas nunca esquecidas, que pairam sobre mim, como se fizessem parte das entranhas do meu corpo que já nada tem para dar.
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Aqui estou eu, velho cansado, a mostrar o que mora cá dentro, sem pagar aluguer e sem dar por isso ou se calhar por querer, as palavras saem cada vez mais soltas, da imaginação dum pobre sonhador apaixonado, que na incompreensão dum desabafo que não pode ter há muito tempo, descarrega as palavras sem nexo, às vezes para quem as lê mas que me dizem muito.
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Aqui estou eu, e para que conste sou mesmo eu, a procurar nas palavras que escrevo, o sossego para um coração angustiado, por sonhos destroçados, por palavras traídas, por motivos desviados, por pensamentos sem sentido, por tristezas vividas, amizades incompreendidas e sem sentido de amor apegado, por um verdadeiro amigo.
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Aqui estou eu, como sempre, melancólico no viver, com os dedos a teclar um portátil que o governo fez o favor de me dar, escrevendo textos à toa, de palavras que brotam às golfadas da minha boca sedenta, não sei se de água ou de amor, mas seca. Ao fim deste tempo, às vezes solta-se uma lágrima, duns olhos com glaucoma e cai neste peito gelado.
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Aqui estou eu, tentando de mim desfazer-me, atirar-me para uma borda qualquer, onde ficasse esquecido de todos e do mundo, mas depois lembro-me dos animais famintos da noite que podiam vir saciar a fome, com este corpo que mesmo velho rijo, para eles seria um petisco e apresso-me a fugir dos pensamentos loucos, esperando um novo amanhecer.
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amtCatela

4 comentários:

Anónimo disse...

Sr. Catela, nunca pensou em compilar os seus textos? Se Saramago vende e Margarida Rebelo Pinto também, sua literatura seria para best-seller. Os meus parabéns!

Anónimo disse...

Obrigado senhor Mário pelas palavras.Os meus textos irão ser recordações vãs, para a minha familia. As palavras saem cá de dentro e só as deixo no papel, quando depois de as ler, fico com a sensação de que poderia ter dito mais.Vou continuar a minha senda neste blog, aproveitando esta forma de descarregar as emoções. O director do BLOG vai colocando a espaços alguns e eu agradeço e muito mais a quem os lê. Obrigado

Anónimo disse...

Peço desculpa mas tenho que rectificar o texto, afinal o governo mandou-me agora a conta do computador para pagar,pelo que tenho que repôr a verdade e dizer que paguei menos por um computador.
A verdade vem sempre ao de cima.

nelson madeira disse...

Caro primo, tenho a dizer que cá no fundo do País vou-me deliciando com a leitura das tuas palavras, escritas sempre com sentimento, tambem sou da opinião que escrever assim não é para qualquer pessoa mas sim para quem tem o dom das palavras. Continua a escrever para podermos ir lendo