terça-feira, 27 de novembro de 2012

Num curral por S. Paio...


Meus amigos,

Este fim-de-semana dei um salto à aldeia… as estadias são curtas para tudo o que uma pessoa queria fazer, para dar atenção a todos quantos a merecem, para dar nem que fosse um simples abraço a todos que queremos…

Cumpri alguns dos objectivos que levava, embora que eu não seja uma pessoa de muitas organizações… É normal em mim: qualquer semelhança entre aquilo que tenho planeado e o que acontece, é uma mera coincidência se existe algo que bata certo! Se a vida nos surpreende a cada momento, para quê ter uns planos aprofundados sobre a mesma… O vento também sopra cada dia de seu lado!

Bem, mas com tudo isto, tinha um recado no Val-das-Casas para passar em casa da Fernanda Pinto. O meu pai só me disse que ela tinha lá uma coisa que me queria mostrar.

Outro parêntesis no meu texto: já há muito que deixamos de ter uma aldeia completamente dedicada à agricultura e pecuária de subsistência. Será que foi uma evolução? Não sei e tenho uma opinião sobre o assunto que alguns conhecem e pela linhagem que este blog segue por vezes é muito fácil de saber qual é, mas não passa disso mesmo: uma opinião pessoal!

Que tenho saudades de uma arranca das batatas, com a merenda a meio da manhã de filhoses com mel, peixe frito e um tinto no meio da terra, tenho sim senhor! Que tenho saudades de uma malha de trigo e centeio ou de ir para cima da saudosa máquina de malhar o milho do ti’ Zé do Pátio, também é verdade, mas tudo muda e quem não se adapta… ou vence ou morre!

Mas isto tudo para dizer que no Domingo passei por casa da Fernanda! Quando não é o meu espanto que ao fundo do terreno dela encontro um curral onde ela está a criar 22 leitões! Com as respectivas mães, que são só 2! A divisão das crias são 10 + 12!

Os animais todos vivaços por lá andam sempre em busca de algo para comer ou então a correr atrás da mãe a ver se são horas de mamar…  é giro ver os animais de um lado para o outro! Há para todos os gostos: os típicos, uns riscados, outros de tom castanho-escuro e um malhado! Muito mais giro e agradável é ver que ainda há pessoas com genica para este tipo de trabalho! Um abraço para a Fernanda Pinto!



Um abraço,
JC

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Homenagem à São Bandeira


Meus amigos, 

Chegou ao e-mail do blog de S. Paio, um texto escrito pelo Andurão. 
Um texto que revela o dia-a-dia de um homem que perdeu a sua companheira, a São Bandeira. A seu pedido, aqui fica na integra o seu e-mail.

Até já,
JC
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Meu caro amigo, muito grato pelo reconforto, para além do lamento, do sofrimento e de recordação da minha querida São, resta-me a escrita e o pensamento do que poderia ter feito! Ninguém pode ir contra o destino!

Em homenagem à minha querida São que faz hoje, dia 23, dois meses que a perdi, se não se importa publicar este texto.

DORMINDO PENSO SEMPRE EM TI
IMPLORO E LAMENTO NÃO ESTARES JUNTO DE MIM
PROCURO, MAS É IMPOSSÍVEL OUVIR-TE.

TUDO TOMA CONTA DE MIM, MESMO NO SILÊNCIO.
NADA POSSO OUVIR.

MAS QUANDO ABRO A JANELA
PARECE-ME ESCUTAR A VOZ DA MINHA PRINCESINHA
QUE O DESTINO LEVOU.

FIQUEI DESAMPARADO EM CHORO
NUMA BRISA QUE SECA MINHAS LÁGRIMAS
QUE CORREM PELO MEU ROSTO.

A VIDA ASSIM O QUIS,
ENTRE LAMENTO E REVOLTA VIVO O MOMENTO TRISTE
POR NÃO ESTARES JUNTO DE MIM.

ENTREGUE A ESTE SOFRIMENTO,
PENSO QUE ME DEVES LEVAR PARA TEU ACAMPAMENTO,
E ACABAR MEU SOFRIMENTO.

LAMENTO A SOLIDÃO CONDENADA
COMO EU FUI CONDENADO.

COM A TUA PARTIDA OBRIGA A LAMENTAR
COMO O MOVIMENTO DO VENTO
E SE ELE ME CONCEDER UM DESEJO
ME LEVE UM DIA PARA JUNTO DE TI.

MEU AMOR, EU TE AMO;
MINHA DOCE, AMADA E SACRIFICADA SÃOZINHA,
ESTARÁS ETERNAMENTE NO MEU CORAÇÃO.

LUDOVINO ANDURÃO 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

S. Martinho... o futuro da tradição!


Meus amigos,

Há quase mês e meio que não vou a S. Paio e as notícias também não abundam… Nesse sentido, tenho de me agarrar a textos de nostalgia e divagação pura por memórias e outros tempos.

Sendo assim, tenho alguns dentro da gaveta mas talvez o mais apropriado para a época seja falar sobre o S. Martinho.

Tenho algumas fotos recentes de castanheiros por S. Paio e outras que retirei de um site.

Mas a razão de eu ir falar do S. Martinho e de um belo magusto tem outra finalidade: mais uma vez falar de um costume antigo e que pode estar em vias de extinção. Estarei a falar dos castanheiros? Nãã…. A ameaça não virá daí!

Uma das actividades engraçadas lá por casa, ainda do tempo dos meus avós, era nesta época meter umas castanhas a assar em caruma, na lareira da casa do forno. O normal era fechar a porta e ficar da parte de fora a ouvir estoirar. 

A castanha assada na caruma fica com um sabor diferente… No forno do fogão tem um sabor, assada na lareira dentro de um assador tem outro sabor, mas metidas no meio da caruma…ninguém me tira esse sabor da cabeça! As mãos fuscas fazem parte do ritual. A acompanhar, água-pé… Alguém fez este ano? Com jeropiga também são boas. Jeropiga caseira, já lá vai o tempo em que bebia proveniente da Gândara de Cima.

Vamos por partes a partir deste ponto do texto! Falei de caruma, àgua-pé e jeropiga!

A primeira, é fácil prever que daqui a uns anos não haverá nem pinhal, pinhas e caruma… logo a ameaça de extinção! 

Falemos agora da água-pé! Ainda há muita gente que faz mas… de ano para ano a coisa vai ficando cada vez mais reduzida. A água-pé, chegou em tempos muito recuados a ser a bebida da população serviçal. Os patrões faziam o vinho e depois de retirar o mesmo do tanque, juntavam água e davam para os empregados. E mais não é do que isto! Depois do vinho tirado dos tanques para os pipos, o mosto é espalhado e mexido! Adiciona-se água! Volta-se a mexer bem e esmagar algum restante no mosto e deixa-se ferver. Retira-se para um pipo e aí esta a água-pé para se abrir no S. Martinho para acompanhar as castanhas. E dá para beber mais uns copos pois o teor alcoólico é mais reduzido! Hoje em dia já pouca gente faz… logo a ameaça de extinção!

A jeropiga, o trabalho de se fazer é quase o mesmo mas supõe que temos alguma bagaceira em casa! Ou seja, o que se faz é esmagar uvas bem maduras (brancas ou tintas conforme se quer jeropiga tinta ou branca), no dia seguinte tira-se para um pipo e junta-se a bagaceira. Normalmente numa proporção de 1:3 (ou seja, 3 partes de mosto esmagado para 1 parte de bagaceira). Deixa-se ficar tudo bem fechado e passado 3 ou 4 meses está pronto para consumo. Aqui não se deixem enganar pois esta bebida já não é água-pé! O teor alcoólico é muito superior… e como é uma bebida doce, engana! Fica doce pois quando se junta a aguardente ao mosto, esta vai parar a fermentação alcoólica que se estava a iniciar. Mais uma vez, já pouca gente faz… logo a ameaça de extinção!

A juntar a estas ameaças também está a nossa legislação! Pura e simplesmente, proíbe o fabrico e a comercialização destas bebidas… Devia ser como as touradas e a lei prever excepções para os casos em que as tradições populares estivessem em causa! 

Mas isto é a minha opinião! Mais fácil é arrancar tudo e pedir subsídio!

Resumindo, caruma, água-pé e jeropiga, qualquer dia não há nada!

Beijos e abraços e até já,
JC
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*as fotos das castanhas são de S. Paio, mas as outras 2 pertencem a outros blogues na internet.