Meus amigos,
Depois de um post que nunca são agradáveis de fazer, cá voltamos nós para vos mostrar uma tarefa própria de quem vive no campo e que aproveita os recursos que a terra dá.
Então, depois da vindima e vinho tirado, há que aproveitar o engaço para se fazer a bagaceira, vulgar bagaço.
Hoje em dia, o mais fácil e mais comum é carregá-lo e levar ao lagar para aí se “queimar” (destilar). É mais rápido e fácil…
Lá por casa, temos um alambique que foi herança deixada pelo meu avô Francisco. Já tem uns anos pois já foi trazido do Vale-de-Açores, no tempo que os meus avós lá viviam. Isto é, pelo menos ali onde está hoje, já conta com 50 anos. Mas aquilo é como as motas BMW.. só depois dos 70000 é que estão no ponto! Por isso, o resultado ainda é de luxo.
Esta prática tão antiga é hoje em dia punível do ponto de vista legal, mas também o que se produz mal dá para o gasto, quanto mais para negócio… eh… eh…
Para quem nunca viu, um alambique basicamente aquilo tem uma base que é a parte da panela onde leva o engaço, depois tem a cabeça e a parte da serpentina que está dentro de um tanque de água fria.
Como se prepara isto tudo? Com uma grande trabalheira…! Ora bem, primeiro de tudo é preciso lavar e limpar muito bem a parte da panela. Como a panela, assim como o restante alambique são de cobre, um produto caríssimo e raro que se usa para arear o cobre é a borralha / cinza da lareira. Com um pouco de água dá um “Cilit Bang” do melhor. Panela, cabeça, tubagem toda lavada e passada por água limpa. Depois está na hora de carregar a panela. No fundo da panela deve-se colocar um pouco de água e palha para depois o engaço ao ser fervido não agarrar no fundo.
Coloca-se o engaço para dentro da panela, e estando esta cheia chegou a hora de começar a selar / vedar todo o mecanismo. Coloca-se a cabeça do alambique e as juntas vedam-se com um pouco de barro. Como estão a ver, tudo material caríssimo. Cinza, barro…
Vedado e tudo limpo da porcaria que fica do barro, está na hora de colocar lume por baixo da panela. O que basicamente acontece é que quando a panela levanta fervura, o vapor quente que sobe para a cabeça do alambique é depois conduzido pela tubagem da serpentina e quando entra na zona fria da mesma, o vapor sofre uma condensação dando origem a água(rdente)…
O lume não pode estar “muito vivo” ou então a caldeira ganha muita pressão e há muito vapor que se escapa… O lume tem de ser brando, tem de se ir vigiando pois a saída do alambique deve deitar sempre um “fio” fino e constante de famosa bagaceira!
Um trabalho que requer alguma paciência, muitas horas (depende do tamanho da panela). Tem-se de se ir controlando a “força” da bagaceira. Normalmente deita-se um pouco de bagaceira que está a sair para cima do lume para ver se ela ainda tem força para “atiçar” o lume.. a outra maneira é directa: prova-se!
Para matar um pouco o tempo de quem vigia o alambique, aproveita-se a fruta da época, os marmelos e metem-se uns a assar no lume.
Meus amigos, se disse alguma barbaridade ou se troquei aqui alguns nomes, as minhas desculpas… as correcções seguem-se de seguida e são bem-vindas!
Um abraço que me vou recolher!!! Voltarei talvez com um “recordar é viver…”.
JC
Depois de um post que nunca são agradáveis de fazer, cá voltamos nós para vos mostrar uma tarefa própria de quem vive no campo e que aproveita os recursos que a terra dá.
Então, depois da vindima e vinho tirado, há que aproveitar o engaço para se fazer a bagaceira, vulgar bagaço.
Hoje em dia, o mais fácil e mais comum é carregá-lo e levar ao lagar para aí se “queimar” (destilar). É mais rápido e fácil…
Lá por casa, temos um alambique que foi herança deixada pelo meu avô Francisco. Já tem uns anos pois já foi trazido do Vale-de-Açores, no tempo que os meus avós lá viviam. Isto é, pelo menos ali onde está hoje, já conta com 50 anos. Mas aquilo é como as motas BMW.. só depois dos 70000 é que estão no ponto! Por isso, o resultado ainda é de luxo.
Esta prática tão antiga é hoje em dia punível do ponto de vista legal, mas também o que se produz mal dá para o gasto, quanto mais para negócio… eh… eh…
Para quem nunca viu, um alambique basicamente aquilo tem uma base que é a parte da panela onde leva o engaço, depois tem a cabeça e a parte da serpentina que está dentro de um tanque de água fria.
Como se prepara isto tudo? Com uma grande trabalheira…! Ora bem, primeiro de tudo é preciso lavar e limpar muito bem a parte da panela. Como a panela, assim como o restante alambique são de cobre, um produto caríssimo e raro que se usa para arear o cobre é a borralha / cinza da lareira. Com um pouco de água dá um “Cilit Bang” do melhor. Panela, cabeça, tubagem toda lavada e passada por água limpa. Depois está na hora de carregar a panela. No fundo da panela deve-se colocar um pouco de água e palha para depois o engaço ao ser fervido não agarrar no fundo.
Coloca-se o engaço para dentro da panela, e estando esta cheia chegou a hora de começar a selar / vedar todo o mecanismo. Coloca-se a cabeça do alambique e as juntas vedam-se com um pouco de barro. Como estão a ver, tudo material caríssimo. Cinza, barro…
Vedado e tudo limpo da porcaria que fica do barro, está na hora de colocar lume por baixo da panela. O que basicamente acontece é que quando a panela levanta fervura, o vapor quente que sobe para a cabeça do alambique é depois conduzido pela tubagem da serpentina e quando entra na zona fria da mesma, o vapor sofre uma condensação dando origem a água(rdente)…
O lume não pode estar “muito vivo” ou então a caldeira ganha muita pressão e há muito vapor que se escapa… O lume tem de ser brando, tem de se ir vigiando pois a saída do alambique deve deitar sempre um “fio” fino e constante de famosa bagaceira!
Um trabalho que requer alguma paciência, muitas horas (depende do tamanho da panela). Tem-se de se ir controlando a “força” da bagaceira. Normalmente deita-se um pouco de bagaceira que está a sair para cima do lume para ver se ela ainda tem força para “atiçar” o lume.. a outra maneira é directa: prova-se!
Para matar um pouco o tempo de quem vigia o alambique, aproveita-se a fruta da época, os marmelos e metem-se uns a assar no lume.
Meus amigos, se disse alguma barbaridade ou se troquei aqui alguns nomes, as minhas desculpas… as correcções seguem-se de seguida e são bem-vindas!
Um abraço que me vou recolher!!! Voltarei talvez com um “recordar é viver…”.
JC
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13 comentários:
Parabéns Jorge. Não disseste nenhuma barbaridade, bem pelo contrário, a descrição está perfeita, embora eu trocasse o termo "panela" por "caldeira".
Deixas aqui um post excelente para mais tarde recordar dado que esta é uma actividade em vias de extinção.
Um abraço
AC
Obrigado!
Há actividades que ainda tenho algum domínio, pois houve alguns anos em que eu passava quase 3 meses de férias em S. Paio que ajudava o meu avô nestas actividades. E também sempre fui um curioso da tanga! Posso não fazer as coisas muitas vezes mas tenho de saber o como e porquê das mesmas!
um abraço,
JC
Jorge está tudo bem esclarecido! Vocês têm uns bons mestres!
Eu também fazia quando estava aí .
Cumprimentos
Aurora
Então e vosso alambique também é de marca BMW? Lol
Deve ter uns bons "quilómetros"!
É verdade que a cinza sempre foi o nosso "Cilit Bang" desde tempos imemoriais. Também era usada para branquear a roupa, nas barrelas. E bang! a sujidade desaparece! E desaparecia mesmo!
Os alambiques são de cobre e têm que ser primorosamente limpos cada vez que se carregam. É mesmo uma grande trabalheira! Eu sei porque, como tu, também já tive tempos (bons tempos! ó tempo, volta p'ra trás!) em que tinha três meses de férias, e também ajudadva nestes trabalhos.
Já agora, mostras aqui um alambique, que é fixo, mas estas "máquinas" têm outra modalidade: creio que são as chamadas alquitarras, que são móveis e, para além da água da serpentina, têm também um depósito de água por cima da cabeça.
Agora eu só tenho pena é que os "operários" que se vêem nas fotos não tenham nenhuma t-shirt a dizer «São Paio na net». Lol
Quase…
Os motores das motas BM só “acamam” lá para os 70 mil kms… os alambiques, aos 70 mil litros!! Eh.. eh…
Por acaso tb ainda me lembro da minha avó usar borralha para tirar nódoas… tempos! E meter a roupa com sabão a corar ao sol…!
Há muitos alambiques. Quem tiver curiosidade pode dar uma olhada neste site http://www.copper-alembic.com/index.php?lang=pt
É só fazer copia-colar do link…
A t-shirt, foi falha… grave!
Abraço!
Ola, boa noite a todos.
Ha muito que nao consultava o site de Sao Paio. Vejo que as boas coisas continuam e um saber que esta veiculando para os mais novos ! Pois continuem.
Em agosto passado sentei-me na borda da fonte a espera que a junta abrisse e tive esta inspiração.
A FONTE DA ESQUINA
A fonte da esquina /de agua pura e cristalina
Que ao beber o seu sabôr/Inspira e da ideias no amôr
Desta agua que aqui bebi/Um grande prazêr senti
Fez passar a minha dôr/ E todas as maguas que até hôje vivi
Desta fonte de São Paio/ Este fado aqui sentado inventei
Para esta terra que ao vento sonhei/ E a prova que jamais a esquecerei
Nesta terra de grande renôme/Alguns poetas aqui passaram
Outros em outro tempo farinha amaçaram/E o resto da vida ca ficaram
Ludovino Andurao
ah Ludovino!!! ah fadista!
e um obrigado pela frase: "(...) e um saber que esta veiculando para os mais novos !". Este mais novo já vai com 35! uma criança, portanto!!
:-)
um abraço daqui para França!
Bom dia
Curiosamente enquanto lia a sua descricão de como fazer bagaco,veio me á memoria o Eca de Queiroz. Portanto creio que deve estar de parabéns pois você tem "um toque". Gostei da forma jocosa como descreve o processo de.....
Aqui na Holanda trabalho geralmente com polacos e ontem quando tentei descrever a um deles (normalmente agricultor na polonia,propriétario de um alambique e produtor de vodka) como se produz bagaco e aguardente e as sua diferencas, não fui capaz. E tive que lho dizer. Mas o homem manteve o seu interesse em saber. E eu hoje parti para uma pesquisa na net.
Eis a explicacão para a minha visita. Mas gostei. E tenho que agradecer-lhe.
Amilcar Ferreira
Muito obrigado pelas suas palavras! Trabalhos do campo que me foram ensinados pelo meu falecido avô que tento manter... A aguardente é do melhor. Ainda lá tenho 20 litros do ano passado.
Curiosamente o meu melhor "cliente" é um vizinho meu de Lisboa que faz ginjinha...
Um abraço até à Holanda!
JC
Nos meus tempos de menino via fazer em Penalva de Alva a aguardente nos "tais " alambiques. Dezenas de anos depois, também eu tenho experimentado fazer aguardente, mas é sempre uma dor de cabeça para limpar o alambique. Obrigado pelas dicas apresentadas e daqui a dias já vou tratar da limpeza do dito. Aqui na região (Viseu)quase toda a gente se deixou desta trabalheira. OS NOVOS NÃO ESTÃO PARA TRABALHAR E OS MAIS VELHOS ESTÃO CANSADOS.......
.
aNTONIO DE PENALVA
Uma descrição sincera honesta e sobretudo elucidativa. Parabéns
Depois de o esfregar, passar um pouco de vinagre(tipo esfregar com uma quantidade generosa de vinagre), ele fica um brinquinho...!
obrigado pelas palavras de todos!
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