segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Trabalhos do campo...

Meus amigos,

Hoje venho ao blog para continuar uma saga que comecei já este ano sobre “trabalhos do campo”!

Se no principio deste ano vos falei sobre a apanha da azeitona, este processo ficou sem a respectiva conclusão que é o trabalho após a apanha: o lagar!

Então, depois de apanhar a azeitona, temos de a levar ao lagar. Normalmente ela é ensacada e assim transportada ao lagar. Chegado a este (e aqui posso começar a divagar um pouco pelo que agradeço correcção caso diga alguma barbaridade!), a azeitona é lavada afim de se limpar alguma impureza que ainda resista no fruto, é pesada e triturada! Esta trituração vai permitir obter uma massa / pasta homogénea (moenda). Este grau de trituração ou moagem é ajustado consoante o estado de maturação da azeitona. Ou deveria ser…

Esta massa é batida e aquecida simultaneamente numa termobatedeira durante cerca de 45 minutos a uma temperatura inferior a 30ºC. Este processo é para garantir uma melhor qualidade do azeite!

A seguir a este passo do processo, tem-se que “encapachar” a massa… É isso mesmo, colocar a massa em capachos! Disto lembro-me de ir algumas vezes ao lagar de azeite do Silveirinho e logo à entrada era possível observar este processo. Uns capachos redondos, com um buraco no meio, e lá estava um senhor que, com bastante habilidade, colocava uma camada da massa em toda a volta do capacho e os ia empilhando num prato! Hoje sei que é um prato de uma prensa hidráulica. Dava um quadro engraçado, ver os capachos todos empilhados, todos certinhos!

Chegou a hora de eles serem apertados, literalmente! Seguem para a prensa (hidráulica)! A prensa começa a subir, e os capachos começam a ser apertados, comprimidos, “entalados”, de modo a garantir que há a separação entre os sólidos e os líquidos. Neste processo obtém-se 2 subprodutos, uma mistura de água e azeite de cor negra, e o bagaço. Este bagaço não é mais do que partes da polpa da azeitona, epiderme e o caroço (que não dá muito jeito que vá junto do líquido precioso)!

Depois há que fazer o processo de separação entre o azeite, a água e restantes impurezas. Um processo que é algo demorado. Utiliza-se, no lagar, a diferença de densidades da água e do azeite para se fazer uma primeira decantação. Nesta fase não estão retiradas todas as partículas e impurezas ao azeite. A centrifugação do azeite é que vai permitir obter um produto puro e pronto a utilizar. Após todo este trabalho o azeite está pronto a ser consumido.

Só umas curiosidades sobre o azeite (algumas são pessoais e por isso não façam disto uma regra): o azeite é talvez das gorduras mais saudáveis que temos. O azeite contém gorduras monoinsaturadas, um tipo de gordura saudável que consumido em moderação (nunca esquecer que a dose faz o veneno…), pode reduzir o risco de doenças cardíacas, pois favorece a redução do LDL (se vocês virem os resultados das análises do sangue, vem lá este parâmetro), que não é mais  do que o colesterol “mau”! Além disso, o azeite tem uma série de anti-oxidantes que favorecem o desempenho do nosso organismo, como os polifenóis.

Hoje em dia tem-se o hábito de quem compra azeite achar que quanto mais amarelinho, melhor! Pois, esse azeite, quando está muito amarelinho é porque já sofreu oxidações por exposição à luz e por consequência, perdeu algumas das suas melhores qualidades. Por isso é que o azeite deve ser guardado em recipientes escuros, protegendo assim da luz! Se o azeite tiver uma cor esverdeada, melhor!

Outra situação que tem ligação com a parte comercial deste produto, para mim só deveria haver a classificação de Extra-Virgem e Virgem, pois esses são os verdadeiros, como nós os conhecemos na nossa terra. Tudo o resto que tem uma denominação de venda “Azeite” são provenientes de azeite refinados e esse é um processo que purifica o azeite, em toda a sua plenitude! Ou seja, limpa as impurezas e limpa o que é bom! É um processo que “limpa” também as vitaminas e os anti-oxidantes naturais do azeite!. E a meu ver, o grau de acidez também não é importante… mas é uma opinião pessoal!

De resto, venha bacalhau para se fazer uma tibornada e regar com azeite novo! E uns tintos, também!

As fotos são do Alexandre e já estavam a criar pó na minha pen desde do ano passado!

Um abraço,
JC
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6 comentários:

AC disse...

Parabéns Jorge, a descrição está perfeita. Nem me atrevo a opinar. Apenas uma pequena nota: vais deixar (muito) decepcionados aqueles que pensavam que o azeite nascia dentro do raio da garrafa na prateleira do super-mercado...

kordeiro disse...

:o)

obrigado!

RosaB disse...

Ora aqui está um banquete de cultura. Obrigada pelo post! Fiquei definitivamente mais rica neste conhecimento! Post de Grande Qualidade!

Alexandre disse...

Parabéns, excelente texto!

kordeiro disse...

já para não se falar nas fotos...!

:-p

Alexandre disse...

As fotos tiveram o mesmo tratamento que um bom vinho, estágio numa pen para amadurecerem ;)

Por falar nisso, para quando o próximo capítulo da confraria? O telhado da sede ainda não sedeu? Ou é desta que vamos abrir mais filiais?