sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O Ti António Elias morreu!

Meus amigos,

Nem só de assuntos alegres se faz este blog. Hoje cumpro o dever de aqui colocar esta notícia. Preferia não o ter de fazer, mas a vida é assim mesmo…

O Ti’ António Elias partiu esta manhã. Foi morar para um lugar diferente. É assim que eu encaro este tema… Faleceu um homem com H grande, daqueles que ainda existem mais alguns por aí, mas já não há forno a lenha ou doutra coisa qualquer que, tire mais nenhuma fornada igual a esta.

Foi um homem, que nasceu e viveu, sem nunca ter no seu bilhete de identidade, o nome do pai que conheceu bem mas, infelizmente naquele tempo, mesmo que passasse por ele na rua, nunca lhe podia chamar pai. Tristes tempos esses, que no fundo, endureceram as pessoas para a vida e pela lei da sobrevivência.

O Ti Elias, também conhecido pelo homem da mini-honda, com a qual já com perto de oitenta anos, ainda se deslocava nela até à vila de S. Pedro d’Alva, para tratar de tudo o precisava.

Este homem como tantos outros do seu tempo, começou a trabalhar ainda mal tinha deixado de mamar com nove anos. Foi carpinteiro/marceneiro durante toda a vida e a pé ou de bicicleta chegou a deslocar-se para trabalhar até à Pampilhosa da Serra.

Adquiriu naqueles tempos difíceis uma casa em S. Paio e como não tinha o dinheiro todo, foi pagando conforme podia a quem lho tinha emprestado, um tal Cunha dos lados de S. Martinho da Cortiça.

Convém dizer-vos que, naquele tempo, o dinheiro se emprestava mediante a palavra de honra da pessoa. Quanto não valia a palavra de honra de uma pessoa que dava para comprar uma casa?

Como os tempos eram difíceis, teve que ir até a Angola para cumprir a sua palavra e trabalhando dia e noite sábados e domingos, pagou a sua divida e acabou por construir em Angola, casas para todos os seus filhos e ainda duas que tinha alugadas e que lhe davam algum rendimento.

O 25 de Abril de 1974 que deu tanto a tantos, a ele tirou-lhe tudo, menos a casa que ele cá tinha comprado. Depois de começar tudo de novo, no fundo uma nova vida, só não conseguiu durante muito tempo, manter os seus filhos perto de si, como tinha feito em Angola, daí estarem hoje todos nos vários cantos deste país. Aqui reconstruiu a sua casa, construiu mais uma em frente não a tendo acabado, mas uma filha acabou-a e ainda comprou outra em Coimbra e ajudou a restaurá-la. Em Angola levou para lá muito cêdo a sua filha mais velha, que sempre viveu com ele desde os dezasseis anos e de tanto tempo estarem juntos, sempre rezingavam mas, no fundo percebiam que, um não era nada sem o outro.

Pessoa sempre muito amiga da casa dos meus avós maternos, muito amigo do meu avô Francisco e de todos. Ainda hoje a minha mãe referiu que foi a pessoa que lhe deu a melhor prenda de casamento (um conjunto de cama bordado e 500 escudos, o que em 1968 era muito dinheiro!). Na minha cabeça, está a imagem de o ver sentado à porta de casa. Habituei-me durante anos a vê-lo lá… umas vezes só, outras vezes com os amigos. Juntavam-se lá o meu tio Fortunato e o meu tio Chico “da Ribeira”. E por ali matavam o seu tempo. E uma imagem de anos e anos… Cumprimentava sempre. Mesmo nos últimos anos, em que a memória começava a atraiçoá-lo, levantava sempre a mão!

Desde do falecimento do meu avô Francisco, o Tio Elias detinha o ilustre papel do homem mais velho de S. Paio.

Contribui involuntariamente para este blog com um flagrante da vida real.

Hoje as lágrimas correm no rosto desta família e o blog de S. Paio de Mondego, entendeu deixar aqui esta homenagem, ao homem grande que com 95 anos partiu e no fundo, apresentar as nossas condolências a todos os familiares.

JC



3 comentários:

Anónimo disse...

Pois caro Jorge faleceu o avô António Elias. Quero deixar aqui um agradecimento, a todo o teu carinho, nas horas que esta familia, em especial aos teus pais que, aqui se deslocaram de propósito para o funeral.Em nome de toda a familia, quero também agradecer a todas as pessoas que o acompanharam à sua última morada, no seu funeral realizado no sábado.
Podia aproveitar este momento para comunicar a todos o dia da missa do sétimo dia mas, infelizmente o Sr. Padre vai de férias e não sabemos sequer, se vai realizar-se a referida missa.
Infelizmente nem a uma pessoa que tanto tem dado à Igreja lhe foi dada a hipótese de ter a referida missa. Vamos tentar promover a missa por intermédio de outro padre, mas senão for possível, com imensa pena vamos marcar mais esta jumto com outras que, temos marcadas nos nossos corações. Nem é por mim, mas por uma filha que agora desejava mandar rezar essa missa e juntar mais uma vez a familia, numa última homenagem ao seu Pai.
Assim vai a vida!

Anónimo disse...

Peço desculpa, mas ao ler detectei um erro que quero ressalvar! Junto escreve-se conforme o fiz atrás. Obrigado.

Anónimo disse...

Ao ver estas fotos recordamos o Ti Elias já com alguma saudade, porque ao passarmos na rua sentimos a falta da sua presença naquele banco à porta de casa. Desejo que o elo de união familiar que ele representava continuo entre a familia, e que haja sempre aquela vontade de se juntarem pelo menos nas datas mais importantes do calendario.