segunda-feira, 12 de novembro de 2012

S. Martinho... o futuro da tradição!


Meus amigos,

Há quase mês e meio que não vou a S. Paio e as notícias também não abundam… Nesse sentido, tenho de me agarrar a textos de nostalgia e divagação pura por memórias e outros tempos.

Sendo assim, tenho alguns dentro da gaveta mas talvez o mais apropriado para a época seja falar sobre o S. Martinho.

Tenho algumas fotos recentes de castanheiros por S. Paio e outras que retirei de um site.

Mas a razão de eu ir falar do S. Martinho e de um belo magusto tem outra finalidade: mais uma vez falar de um costume antigo e que pode estar em vias de extinção. Estarei a falar dos castanheiros? Nãã…. A ameaça não virá daí!

Uma das actividades engraçadas lá por casa, ainda do tempo dos meus avós, era nesta época meter umas castanhas a assar em caruma, na lareira da casa do forno. O normal era fechar a porta e ficar da parte de fora a ouvir estoirar. 

A castanha assada na caruma fica com um sabor diferente… No forno do fogão tem um sabor, assada na lareira dentro de um assador tem outro sabor, mas metidas no meio da caruma…ninguém me tira esse sabor da cabeça! As mãos fuscas fazem parte do ritual. A acompanhar, água-pé… Alguém fez este ano? Com jeropiga também são boas. Jeropiga caseira, já lá vai o tempo em que bebia proveniente da Gândara de Cima.

Vamos por partes a partir deste ponto do texto! Falei de caruma, àgua-pé e jeropiga!

A primeira, é fácil prever que daqui a uns anos não haverá nem pinhal, pinhas e caruma… logo a ameaça de extinção! 

Falemos agora da água-pé! Ainda há muita gente que faz mas… de ano para ano a coisa vai ficando cada vez mais reduzida. A água-pé, chegou em tempos muito recuados a ser a bebida da população serviçal. Os patrões faziam o vinho e depois de retirar o mesmo do tanque, juntavam água e davam para os empregados. E mais não é do que isto! Depois do vinho tirado dos tanques para os pipos, o mosto é espalhado e mexido! Adiciona-se água! Volta-se a mexer bem e esmagar algum restante no mosto e deixa-se ferver. Retira-se para um pipo e aí esta a água-pé para se abrir no S. Martinho para acompanhar as castanhas. E dá para beber mais uns copos pois o teor alcoólico é mais reduzido! Hoje em dia já pouca gente faz… logo a ameaça de extinção!

A jeropiga, o trabalho de se fazer é quase o mesmo mas supõe que temos alguma bagaceira em casa! Ou seja, o que se faz é esmagar uvas bem maduras (brancas ou tintas conforme se quer jeropiga tinta ou branca), no dia seguinte tira-se para um pipo e junta-se a bagaceira. Normalmente numa proporção de 1:3 (ou seja, 3 partes de mosto esmagado para 1 parte de bagaceira). Deixa-se ficar tudo bem fechado e passado 3 ou 4 meses está pronto para consumo. Aqui não se deixem enganar pois esta bebida já não é água-pé! O teor alcoólico é muito superior… e como é uma bebida doce, engana! Fica doce pois quando se junta a aguardente ao mosto, esta vai parar a fermentação alcoólica que se estava a iniciar. Mais uma vez, já pouca gente faz… logo a ameaça de extinção!

A juntar a estas ameaças também está a nossa legislação! Pura e simplesmente, proíbe o fabrico e a comercialização destas bebidas… Devia ser como as touradas e a lei prever excepções para os casos em que as tradições populares estivessem em causa! 

Mas isto é a minha opinião! Mais fácil é arrancar tudo e pedir subsídio!

Resumindo, caruma, água-pé e jeropiga, qualquer dia não há nada!

Beijos e abraços e até já,
JC
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*as fotos das castanhas são de S. Paio, mas as outras 2 pertencem a outros blogues na internet.

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