quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Convivências.. em adegas!

Meus amigos,

Hoje venho ao blog para vos falar de uma actividade muito comum em tempos que já lá vão mas que alguns ainda, a muito custo, tentam manter: o convívio nas adegas!

Desde novo sempre me lembro de qual fosse a casa, oferecia-se sempre um copo e uma bucha para empurrar! O local de convívio era a adega. Não se ia para a cozinha, para a sala ou qualquer outro sítio: era na adega! Preparada sempre com uma mesa, fosse ela em madeira ou em cimento... e algumas até sem mesa. Mas havia sempre um elemento essencial: um copo ou púcaro… uma vasilha qualquer! E assim se enxaguava o copo, volteava-se a torneira do pipo (e torneira que se preze tinha de chiar…) e se enchia o copo. Ás vezes o mesmo copo servia para vários sendo o gesto de encher repetido tantas vezes quantas fossem precisas.

Com a pinga, havia por vezes algo para mastigar… umas azeitonas com broa, um pouco de presunto ou um queijo que estava a secar na tábua! Tempos… ainda no ano passado fiz uma rota(zinha) por algumas adegas, o que me valeu até rasgados elogios por parte de um proprietário (não pelo facto da visita, mas pela quantidade de copos bebidos...). Mas soube bem… contam-se umas histórias, recordam-se momentos, entre um copo e outro e lá se passa o tempo.

Há 2 adegas que gosto de visitar em S. Paio. Nada tem haver com o vinho dessas casas mas pela adega em si! Uma é a do ti’Zé Sevlho, chão em terra que mais parece cimento, uma mesa em cimento chumbada no chão (um factor de extrema segurança para mim… posso me encostar à vontade!), fresquinha, e o cheiro... a adega! Aquele cheiro característico… Muito bom! Outra, uma adega única pela sua arquitectura, a do ti’Joaquim “do Valeiro”! Também em terra, com um desnível ao longo da mesma que não dá muito jeito depois de uns copos, atravessada no tempo da chuva por um rego de água… Do melhor!

Depois, claro que há já umas versões mais modernas de adegas que também são muito boas… não me posso esquecer que este blog nasceu numa noite que culminou numa dessas adegas!

Hoje, estes convívios foram transferidos normalmente para anexos que as casas têm, com mais conforto, as próprias adegas têm outras condições e estrutura, havendo também mais copos à disposição! Os pipos de madeira em muitas casas deram o seu lugar a cubas de aço inox, o chão já não é de terra pisada e repisada, e muitas vezes já nem se vai ao pipo mas sim à garrafeira buscar aquela garrafa de marca, reserva não-sei-de-quando que estava ali à espera de uma ocasião para ser aberta. Talvez uma monocasta, coisa rara nas colheitas caseiras… Mas o que interessa é que estes convívios não se percam no tempo pois felizmente há bons produtos da lavoura vitivinícola! Muito proprietário, não deixou que as suas vinhas se transformassem num matagal e há mesmo muita vinha nova na nossa freguesia.

Um bom resto de feriado!

Um abraço,
JC

3 comentários:

RB disse...

Lembro-me bem dessas coisas,cada vez mais raro nos tempos de hoje. Para mim não é novidade,pois já passei por esses momentos,cheguei a sair bem quentinho desses recantos.... ahhh linda Beira-Alta e Douro !

Catela disse...

És a alma e o coração deste blog.
Não há dúvida de que, quando queres e metes mão à obra saiem verdadeiras relíquias. Mais um texto maravilhoso, que nos diz o que vivemos diáriamente numa aldeia, sendo que desta forma muito própria que adoramos.Um abraço e que Deus te ajude e ilumine sempre!

Alexandre disse...

O que me recordas...

Há perto de 15 anos, andando uma rapaziada a pedir os reis, depois de já ter "corrido o povo", decidimos ainda ir ao Ti Zé Sevilho. Ir pela estrada da Gândara de cima, sem luz naquela altura, bater ao portão e começar a tocar/cantar e tirar o Ti Zé da cama (já deviam ser umas 11 das noite), não é que o homem nos convidou a entrar na (já falada) adega, para provar (ou mais do que isso!) jeropiga e bolos lebados com mel?

Belas recordações, saí de lá sem medo nenhum do frio ou das poças de água!

Penso que as adegas são (eram?) espaços acolhedores, não pelos néctares e aromas que se podem encontrar, mas sim pelo calor humano de quem recebe com gosto.

Bom post, se a mim (que não sou velho) me traz boas recordações, imagino a quem já ande mais rodado na vida!