terça-feira, 16 de outubro de 2007

O inverno...

Sinto-me bem no inverno, não quando os corpos suam desmesuradamente, o ar falta de tão quente, não apetece andar, nem correr, nem saltar! A noite chega também ela quente, às vezes sem uma brisa sequer para adoçar a nossa pele. Assim nem apetece apertar uma mão que nos aparece, nem responder a um beijo desejado, nem olhar as estrelas de relance, nem um carinho para dar nem receber. Só me sinto bem no inverno!

O inverno é o tempo dos desejos retidos, do encostar dos corpos trémulos, do sentir dos corações palpitantes, das golas levantadas dos casacos, das frieiras nos dedos dos pés e das mãos, de roupa e mais roupa que tanto custa a tirar, mas resulta em felicidade quando se tira, de mais horas passadas na cama, tentando aquecer, dos arrepios de frio ou se calhar de prazer, do tremor, nem sei se de medo, ou se dum sonho que não se pode ter, o bafo quente das bocas ansiosas por um beijo ardente, despertando lampejos duma chama que teima em manter-se e que baixa a intensidade e volta a crescer, consoante a paixão dos sentidos.

No inverno, as mãos geladas fazem soltar pequenos “uis” procurando cada recanto dos corpos, na busca do despertar das emoções e acabam por aquecer,num corpo quente que espera por elas, as águas dos rios correm em abundância, ninguém se importando onde elas vão desaparecer porque não fazem falta nenhuma.

O inverno é tempo de amor, de paixão, é tempo, onde se tem mais tempo para tudo e para os outros. É tempo, de segredos nunca ouvidos, é tempo de ficarmos presos, na prisão da vida que nos embrutece a alma, mas nos faz viver. É tempo do frio de rachar, da neve nos meus cabelos de tantos invernos passados. No fundo só queria que num golpe de magia, o frio cada vez mais gelado de cada minuto do silêncio da minha vida, obrigasse a procurar em cada recanto dos meus sonhos, a justificação para nunca te perder, caminhando ao encontro de todas as encruzilhadas que ainda nos vão aparecer, umas vezes tão distantes um do outro e outras à distância que generosamente julgamos conveniente, por uma palavra mal recebida ou mal elaborada.

O inverno vem e volta a cada ano que passa, só o nosso tempo fica para sempre no passado, sem hipótese de voltar, só nos restando sonhar um sonho de inverno sempre.
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amtCatela

1 comentário:

Anónimo disse...

Continua a escrever. Os teus textos dão-nos sempre que pensar. Obrigado. Beijinhos.