A noite tinha chegado de mansinho à minha aldeia e a prova disso, é que as lâmpadas da iluminação pública estavam a começar a acender. Uma aqui, outra ali, uma de cor branca, outra, topo de gama de cor alaranjada e que dizem, consome menos energia e que é obrigatório por lei serem colocadas em substituição das mais antigas. O certo é que a minha aldeia, com estas lâmpadas, parece que está a preparar-se para a chegada do Pai Natal e fica linda. Quase nem me apetece meter uma cunha, “porque isto de EDP, ou outra empresa pública” só com cunhas é que se lá vai.
Mas isto tudo para dizer, que do jardim de minha casa, a aldeia parece um presépio, apesar de eu saber que os figurantes não são os mesmos e estão em muito menor número. Se quisermos mesmo ver, os efeitos da chamada crise do FMI, temos que visitar uma aldeia destas. A crise tornou estas aldeias desertas, as pessoas ficam por casa à espera de um novo dia e que uma nova esperança renasça em cada sono dormido.
Senão fosse a labuta que vai começar perto das seis da manhã, que vai levar as pessoas para os campos para aquela agricultura de subsistência, esta aldeia, bem que parecia as antigas cidades do Oeste Americano, quando as minas de ouro se esgotavam e tudo se mudava para outros locais, atrás do “bendito metal precioso”. Mas aqui não é a América e ainda tudo se preocupa com as batatas, mesmo que depois elas fiquem cheias de borboleta, aqui ainda se preocupam com as videiras, porque estão carregadas de cachos e podem estragar-se com o vento e as chuvas, aqui ainda se preocupam com as oliveiras que irão dar mais ou menos azeite, aqui ainda se preocupam com os pássaros que andam a dar cabo das cerejas e de outros frutos.
A minha aldeia está perdida pelo envelhecimento, pelas crianças que deixaram de nos mostrar o seu sorriso, pelo abandono em busca de melhor vida que está a acontecer a todo e qualquer jovem que aqui nasceu, inclusive, por aqueles que foram estudar para as Universidades e que não pensam em voltar, mas que, vão aproveitando e vão dizendo aos papás, para não deixarem morrer as nossas aldeias. Depois de pensar mais um bocado neste dia, em que me apeteceu pisar a relva do suor de uma vida ainda por viver, acabei por descobrir, que afinal isto não é assim tão interior, ou então é o mar, que ao contrário do que dizem se está a afastar.
Na minha aldeia, a gente de fibra está a desaparecer com a idade alcançada, que faz perder essa atitude a uns tantos e amolece outros e eu, vejo esse tempo que agora é deles a aproximar-se tão depressa e, sem nada poder fazer, enfio-me na casa, procuro o meu canto onde vou escrevendo o que sinto… simplesmente esperando e acreditando que a minha aldeia, um dia, possa voltar a renascer para a vida.
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AC
1 comentário:
gosto muito deste testo e é uma grande verdade porque lufreu aldeia que vou tornando publica esta mesmo acabar ao fim de semana ainda se vê alguma vivacidade mas derresto é sempre a mesma rotina .
eu ainda me lembro tão bem daquela aldeia tão viva e o centro das atenções do alto concelho com o DR rua a dar consultas e a ajudar toda gente a nossa escola a funcionar e tudo o resto até me da vontade de churar a ver no que ela se tornou
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