Nem sempre a vida corre ao ritmo que desejamos e houve um atraso na elaboração destes 2 textos. Como achamos que seria útil a informação da hora dos funerais realizados na passada segunda-feira, publicou-se só essa informação ficando algumas palavras por dizer, mas aqui vão elas...
O texto do ti' Guilherme foi escrito pelo Catela, Sobre o ti'António Carteiro, escrito por mim.
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A
aldeia voltou a chorar incrédula, porque apesar da idade já avançada, mais um
dos seus filhos mesmo que adoptado partiu. Não pediu contas a ninguém, não quis
acertá-las na terra e partiu. Escolheu o caminho que o cérebro cansado lhe
exigia e pronto sem mais perguntas, partiu.
Deixou,
como quase sempre deixam todos os que partem como ele, as outras perguntas no
ar…e são sempre perguntas difíceis que nunca obtêm resposta. Enfim o “ti’Guilherme
da venda”, como quase todos o conhecíamos, partiu ao encontro da solidão, ou
então, à procura dos sonhos que não cumpriu, mas partiu. Enrugado pelos anos
vividos, cansado de uma vida nem sempre bem vivida, de tempos agrestes
recordados.
Decidi
fazer este pequeno texto, pelo que recordo dele, pelo que me ficou dele e pela
forma discreta como sempre me tratou. Recordei uns matraquilhos afinados e de
tal maneira oleados que a rapidez com que se jogava era impressionante.
Recordei uma noite de casamento, daqueles casamentos à moda antiga, feitos no
pátio de uma casa, cobertos de um simples plástico transparente, tentando
evitar alguma chuva que pudesse aparecer e nesse dia, ele estava lá, no fulgor
da idade, jogando com os mais novos na sua taberna, lutando com aquelas mãos
calejadas de igual para igual. Pois… recordo e recordarei sempre o momento, e
com carinho recordarei este homem triste no olhar, mas que sempre me respeitou.
Caro
António Pais Guilherme descanse em paz, naquela paz que todos procuramos
encontrar um dia!
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No
dia seguinte, chega a notícia da morte de António dos Santos Fonseca, ou
simplesmente o Tóino Carteiro. Nascido e criado num dos muitos Casais
existentes em São Paio (ainda do tempo que tinha como complemento “da Farinha
Podre”) chamado de Vale-de-Açores, onde nunca houve nem água canalizada nem
electricidade, mas onde se criaram 6 filhos!
As brincadeiras de miúdos estavam
longe de chegar a uma consola de jogos! Havia sim, várias consolas de jogos mas
feitas de formas rudimentares e até um pouco de estopa a estoirar ao ser calcada dentro de um ramo oco de sabugueiro
servia de diversão… décadas de dificuldades mas felizes e férteis!
O António, é
o terceiro filho de um Casal onde se vivia do que a terra dava e dos animais…
alguns negócios da venda de queijo, troca de bois, peles de animais e pouco
mais. E assim se criaram 6 filhos! O António cedo foi para Lisboa para
trabalhar, mas regressou à sua terra onde constituiu família. Viveu na Cruz do
Soito! Deixa viúva Maria Cândida Cordeiro das Neves Fonseca.
Só
um apontamento sobre o António, meu tio direito! Eu podia desde de novo ter a
ideia mas foi este homem que teve a paciência de me ensinar a andar de
motorizada. Na sua Famel Z2, sempre que ele ia ao Val-das-Casas, eu vinha
apreciar a motorizada. Houve um dia, pacientemente ele ensinou-me o que era a
embraiagem, selector das mudanças, travão traseiro, o dianteiro e depois da
teoria, passou à prática. Desde desse dia, nunca mais parei e ainda hoje
agradeço-lhe do fundo do meu ser, o que ele me ensinou. É o meu vício mais
caro, um modo de estar na vida, de estar com os amigos, mas acima de tudo, um
prazer que como se costuma dizer, só quem anda de mota entende o porquê dos cães
colocarem o focinho à janela quando andam de carro.
Tio, um dia voltamos a dar
uma volta juntos. Sim, sempre de capacete! Até lá…
Um abraço,
JC
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